O Tênis e a Cirurgia de Mão

cirurgia-da-maoAntes de falar diretamente em medicina, peço a licença para falar um pouco da minha história.
Sou tenista desde os 7 anos de idade (acho que é isso, pois a memória não chega tão longe, já que estou com 34) sob a influência de meu pai.
Como a maioria dos amantes do nosso esporte, chegou uma hora, lá pelos 15 ou 16 anos, que tive que deixar a raquete um pouco de lado e me dedicar mais profundamente aos estudos.
Mesmo não jogando com tanta freqüência nunca deixei de acompanhar o esporte da raquete, principalmente vibrando com as conquistas do Guga, coisa considerada impossível para a época que eu jogava como guri.
Sou natural de Bagé e freqüentei, e tenho saudades dos tempos que passei e das amizades que fiz, nas quadras do BTC (Bagé Tênis Clube) e do Cantegril. Fiz faculdade de Medicina em Pelotas (UFPel) e depois fiz residência de ortopedia e traumatologia na Santa Casa de Porto Alegre. Após isso morei um ano nos Estados Unidos fazendo especialização em cirurgia de punho e mão.
Desconhecida da maioria das pessoas, a especialidade de cirurgia de mão teve início nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. No tratamento das complexas lesões, causadas principalmente por explosivos, era necessário o trabalho de vários médicos cirurgiões, como Ortopedistas, Neurocirurgiões e Cirurgiões Plásticos. Apesar da grande equipe de profissionais envolvidos no tratamento, os resultados não eram satisfatórios, porque o retorno dos militares ao campo de batalha era demorado, não sendo rara a evolução para infecção, rigidez e perda da função. Surgiu, então, a necessidade de um só médico tratar os grandes traumas do membro superior, e assim nasceu a Especialidade de Cirurgia de Mão.
A filosofia de tratamento das patologias e traumatismos da mão é restabelecer a função, ou seja, proporcionar o retorno imediato dos movimentos e da sensibilidade. Devido à grande complexidade das estruturas que compõe a mão, o tratamento de pacientes com graves lesões deve ser altamente especializado, com cirurgias reparadoras e um bom programa de reabilitação a fim de obter o melhor resultado possível num curto espaço de tempo.
Conforme estudos realizados pela Sociedade Brasileira de Mão, a maioria dos pacientes, quando tratados por não especialistas, levam mais de quatro meses para voltar as suas atividades normais, enquanto que os tratados por Cirurgiões de Mão tiveram melhora em menos de três meses. Além disso, um número significante de pacientes tratados por médicos não especialistas ficaram com seqüelas definitivas, a ponto de serem aposentos por invalidez.
Entre as patologias mais freqüentes tratadas por este médico especialista estão às fraturas e lesões ligamentares do cotovelo, punho e mão, as lesões cortantes de tendões e nervos, a lesão traumática de ponta de dedo (unha e polpa digital), as amputações, a perda de cobertura cutânea, os problemas degenerativos causados por artrite ou artrose, as compressões nervosas, como a síndrome do túnel do carpo (que causa formigamento noturno da mão) e as deformidades congênitas, como a polidactilia (dedos extras) ou a sindactilia (dedos não separados).
O cirurgião de mão também trata de patologias que tem o seu problema inicial na raiz do membro superior, como as lesões do plexo braquial, que é o conjunto de nervos que vai da coluna cervical a mão. Portanto, a definição mais correta para a especialidade é aquela voltada não apenas a própria mão, mas a todas as estruturas que lhe dão suporte, sendo melhor definida como cirurgia de mão e do membro superior.
A evolução científica e tecnológica também alcançou a cirurgia de mão. Com o advento da microcirurgia, a cirurgia realizada com auxílio de microscópio ou lupas de aumento, houve um grande impulso. A incorporação desta técnica cirúrgica, aliada aos conhecimentos modernos de anatomia, permitiu que os resultados das reconstruções de nervos, vasos, reimplantes e até transposições de dedos dos pés para as mãos apresentassem bons resultados funcionais.
Quanto à relação da cirurgia de mão com o Tênis, podemos prever que o entendimento mais aprofundado da anatomia e das patologias que acometem a região distal do braço, e a sua associação com o uso dos músculos e das articulações na prática do tênis, pode facilitar o tratamento e propiciar um rápido e seguro retorno às quadras.
Tentarei nas próximas edições do jornal aprofundar as dúvidas dos tenistas sobre as lesões que ocorrem no membro superior, principalmente no cotovelo, punho e mão.

Ricardo Kaempf – Jornal Match Point

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