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10dez, 17

Smartphones: o vilão do momento

Especialistas em tecnologia não cansam de repetir que as inovações não estão aí para serem julgadas. E de nada adianta proibir ou ser contra o seu uso. Cada um vai usar conforme a sua necessidade.

Resolvi escrever sobre esse tema ao me deparar na internet com vários sites e blogs falando do risco do uso do smartphone. Segundo a maioria, o uso em demasia poderia causar doenças graves na mão, como tendinites intratáveis, artrites e artroses, podendo até ser necessária cirurgia no tratamento. Com relação ao acometimento da coluna não é diferente, vi descrições de hérnias de disco causadas exclusivamente pelo uso dos smartphones. Em minha opinião não há necessidade para tanto alarde.

Hoje em dia, a tarefa que menos realizamos com um telefone é fazer ligações. Eles se transformaram em minicomputadores. No Brasil existem 250 milhões de aparelhos celulares habilitados, sendo que 40 milhões tem acesso a internet. Sabe-se que em média uma pessoa acessa 100 mensagens por dia. Se ficarmos sem os celulares por instantes, parece que estamos fora do mundo. Desconectadas da realidade. Isso nos torna refém do aparelho.

Nossa equipe de cirurgia de mão realiza em média 1500 cirurgias ao ano, e não me lembro de um único procedimento causado exclusivamente pelo uso de smartphones. Por isso, o risco do uso dos gadgets causarem uma doença grave, que necessite de cirurgia, é bem pequeno. O que observamos com frequencia são pacientes que já apresentam determinada patologia (artrose ou tendinite) e que observam uma piora da dor com o uso do aparelho.

O uso exagerado de celulares e tablets em posições desconfortáveis podem gerar dor. Para usar o computador de mesa a pessoa deve estar sentada com os braços apoiados. Agora se pode usar internet na cama, no sofá, no carro e vários outros locais inadequados. Isso causa uma sobrecarga em articulações e musculaturas que não eram utilizadas até então. Também gera uma força extra na musculatura cervical e do ombro.

Até pouco tempo atrás a culpa da maioria das dores que atingiam o membro superior era do uso do teclado dos computadores. Hoje o vilão é o celular. Noto que a maior diferença entre eles é que o computador é usado no trabalho, onde na maioria das vezes é exigida uma alta produtividade, ficando o funcionário sobrecarregado. Já os smartphones são usados principalmente para assuntos pessoais, para o prazer e diversão, sendo a sua demanda regrada pelo usuário, diminuindo assim o risco de lesões.

A ponta do polegar que até alguns anos tinha como função principal a força de pinça e a sensibilidade, hoje, com o uso de celular, necessitamos uma ampla mobilidade do polegar com rotação, flexão e força.

Um estudo canadense analisou 140 universitários e mostrou que 84% apresentavam algum tipo de dor relacionado ao uso do celular. Sendo que a incidência é duas vezes maior nas pessoas que acessam a internet. O risco de ter dor também é maior nas pessoas que seguram o aparelho e digitam com uma só mão.

Para fazer o diagnóstico de doença ocupacional é preciso haver uma clara correlação da lesão com o tipo de atividade exercida. Essa análise é feita por profissionais especialistas nessa área, como médicos do trabalho ou o cirurgião de mão.

Nas lesões mais comuns do punho e mão, como Síndrome do Túnel do Carpo, dedo em gatilho e tenossinovite de Quervain, podemos observar que os sintomas pioram com as atividades de vida diária, mas não podemos afirmar ou comprovar que as lesões foram causadas pelo uso em demasia dos telefones. Geralmente essas doenças estão mais relacionadas possíveis irregularidades hormonais, principalmente nas mulheres, que atividades ou exercícios. Períodos como a menopausa ou a gestação, ou doenças sistêmicas como diabetes, reumatismos e alterações da tireóide, são fatores de risco para o seu aparecimento.

Lembrar que a maioria dos usuários das novas tecnologias são os jovens, uma geração que já se desenvolveu com o uso dessas inovações, portanto adaptados ao seu uso.

Pacientes que apresentam dor causada pelo uso dos telefones celulares podem se beneficiar de certas dicas de prevenção. Inicialmente se deve evitar o uso por tempo prolongado. Devem-se fazer pausas e intervalos regulares. Em casos mais sérios, recomenda-se o uso de gelo no local, de antiinflamatórios tópicos e fisioterapia para reforço da musculatura. Outra dica simples para evitar a sobrecarga causada pelo uso exagerado dos smartphones é apoiar os cotovelos e utilizar as duas mãos para o seu manuseio. Também é recomendável sempre que puder apoiar o aparelho em uma mesa. E caso você necessite mandar muitas mensagens em um mesmo dia, prefira usar mensagens de voz, ao invés de digitar todas às vezes.

Tudo na vida, quando feito em demasia pode causar problemas. Com os smartphones não é diferente. Nosso organismo foi feito para ser usado. Existem mais doenças relacionadas à inatividade ou a imobilização, que ao excesso de uso. Mas tudo tem que ter um limite e um bom senso. Qualquer estrutura quando usada por horas, sem regras ou intervalo, pode sofrer lesões. Mas quando o uso é feito de forma racional, não apresenta um risco tão exagerado a nossa saúde.

Para acessar o pdf do Informativo:

https://www.ricardokaempf.com.br/wp-content/uploads/2017/12/Informativo_06-2017-internet.pdf

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