Blog

1ago, 14

A mão é um dos órgãos mais importantes do corpo humano. Ela é responsável por atividades completamente antagônicas, que variam de movimentos delicados e precisos, como escrever ou tocar um instrumento, até tarefas que exijam força e potência. É pelas mãos que conseguimos nos relacionar com o com o meio externo, interagindo com tudo e com todos ao nosso redor.

No dia a dia não nos damos conta da força que nossos dedos têm. Podemos nos pendurar pela ponta dos dedos. Isso sem falar na precisão do tato. Há mais terminações nervosas de sensibilidade fina na ponta dos dedos, que em qualquer outra parte do corpo. Tente contar dinheiro usando luvas para entender a importância dessa sensibilidade. Parece simples, mas pode incomodar bastante.

Às vezes, minimizamos as pontas dos nossos dedos. Elas funcionam tão bem e são tão resistentes que quando se diz: “machucou só um dedo”! – pensamos: foi pouca coisa. O que não nos damos conta é que às vezes, uma pequena lesão pode comprometer a função da mão inteira. Imagine lavar a louça sem usar o polegar!

Toda essa capacidade depende de um conjunto de estruturas: ossos, tendões, ligamentos, nervos, pele e até da gordura! Sim, da gordura: imagine se a polpa dos nossos dedos não fosse macia!

Presente no Brasil desde 1970, a cirurgia de mão foi reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina em1982. Isso foi um reconhecimento para os médicos que tratam apenas das doenças que atingem a mão e o membro superior. Afinal a especialidade em cirurgia de mão tem livros, congressos e cursos próprios, todos independentes das outras especialidades médicas.

Desconhecida da maioria das pessoas, a especialidade da cirurgia de mão teve início nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Sentiu-se necessidade de um só médico para tratar as lesões complexas do membro superior causadas por explosivos. Imagine um soldado que, durante a guerra, machucou os dedos e não consegue mais atirar. É um soldado a menos no exército. Para que esse soldado não ficasse com o dedo duro, sem sensibilidade ou sempre doendo, havia a necessidade de tratá-lo como um todo (da pele aos ossos). Ou seja, para pudesse voltar logo para a “guerra”. Até aquele momento, uma vez que um soldado machucasse a mão, ele era atendido por vários especialistas ao mesmo tempo, sendo que o ortopedista tratava das fraturas, o neurocirurgião cuidava das lesões de nervos e o cirurgião plástico tratava das lesões de pele e tendão. Apesar de a equipe ser formada por vários profissionais capacitados, o resultado do tratamento não era satisfatório, sendo muito comum os casos de infecção, rigidez e perda da função.

Neste momento foi visto a necessidade de alguém capaz de tratar tudo relacionado às mãos de uma só vez, a fim de reabilitar o soldado o mais rápido possível. Então, surgiu o cirurgião de mão, capaz de tratar clínica e cirurgicamente todas as partes da mão até o cotovelo (ossos, articulações, ligamentos, tendões, músculos, vasos sanguíneos, nervos e até a parte estética). Assim nasceu a Especialidade de Cirurgia de Mão.

A especialidade de Cirurgia da Mão não é somente uma especialidade cirúrgica. Um cirurgião de mão é um especialista em cuidados e tratamentos das doenças que ocorrem no membro superior e esses tratamentos podem ser clínicos, não sendo necessária cirurgia. A filosofia primordial de tratamento das patologias e traumatismos da mão é restabelecer a função, ou seja, proporcionar o retorno imediato dos movimentos e da sensibilidade.

A cirurgia da mão engloba todo o membro superior, o que implica em tratar afecções que possam acometer estruturas que o constituem como osso, articulações, ligamentos, tendões, músculos, nervos, pele e vasos sangüíneos. Somente com a integridade e inter-relação dessas estruturas é que teremos o funcionamento normal do membro superior. O cirurgião de mão também trata de patologias que tem o seu problema inicial na raiz do membro superior, como as lesões do plexo braquial, que é o conjunto de nervos que vai da coluna cervical a mão. Portanto, a especialidade de Cirurgia de Mão é voltada não apenas a própria mão, mas a todas as estruturas que lhe dão suporte. Por isso, seria melhor definida como cirurgia de mão e do membro superior.

Devido à grande complexidade das estruturas que compõe a mão, o tratamento de pacientes com lesões deve ser altamente especializado. Isso é feito com cirurgias reparadoras e com um programa especifico de reabilitação, obtendo-se assim, o melhor resultado, num curto espaço de tempo.

As estatísticas no Brasil não são precisas, mas se sabe as lesões nas mãos são responsáveis por mais de 30% dos acidentes de trabalho com afastamento. São pacientes jovens e ativos e que podem apresentar seqüelas para o resto da vida. Isso é um prejuízo imenso para a nossa economia.

Conforme estudos realizados pela Sociedade Brasileira de Mão, a maioria dos pacientes, quando tratados por não especialistas, levou mais de quatro meses para voltar as suas atividades normais, ao passo que, os tratados por Cirurgiões de Mão tiveram melhora em menos de três meses. Além disso, um número significativo de pacientes tratados por médicos não especialistas ficou com sequelas definitivas, a ponto de serem aposentos por invalidez.

Para se tornar um especialista em Cirurgia de Mão é necessário, após a Faculdade de Medicina, fazer a residência médica em Ortopedia. Depois, realizar mais dois anos de residência exclusivamente em cirurgia de mão. Somando todo treinamento, são necessários onze anos de estudo para então submeter-se a provas teóricas e práticas elaboradas pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Mão que envolve todas as áreas médicas clínicas e cirúrgicas do membro superior. Só então, este médico se torna um Especialista em Cirurgia da Mão.

A residência de cirurgia da mão também inclui o aprendizado de micro cirurgia, o que permite a capacitação dos residentes na realização de cirurgias de retalhos, reimplantes e micro cirurgia de nervos periféricos. Muitos cirurgiães de mão têm conhecimento para tratamento de afecções do cotovelo e braço.

Dentro da cirurgia da mão temos as afecções não traumáticas e traumáticas. A primeira engloba patologias comuns como síndrome do túnel do carpo (que causa formigamento noturno da mão), tendinites, dedo em gatilho, cotovelo de tenista, artrose de dedos e punho, deformidades congênitas, como a polidactilia (dedos extras) ou a sindactilia (dedos não separados), dentre outras. No segundo grupo temos vários tipos de acidentes e lesões, como lesões cortantes de tendões e nervos, lesão traumática de ponta de dedo (unha e polpa digital), fraturas e lesões ligamentares do punho e da mão, até procedimentos mais complexos, como reimplantes de membros (recolocação de um membro após amputação) ou perda de cobertura cutânea pós queimaduras. Por trabalhar somente com patologias localizadas no membro superior, o cirurgião de mão apresenta uma experiência maior no tratamento dessas patologias.

Acidentes do dia a dia, traumas aparentemente pequenos, como esmagar dedo na porta, cortar dedo com faca, forçar dedo com uma bolada, podem nos limitar bastante.  Esta é a função do especialista em mãos: tratar os dedos da “unha aos ossos”. Às vezes, simples orientações nos curativos, como uma imobilização correta é o suficiente; às vezes, há necessidade de cirurgias. No entanto, o mais importante é fazer o diagnóstico preciso e precoce de todas as lesões.

O Serviço de cirurgia de mão do Hospital Mãe de Deus organizará nos dias 01 e 02 de Novembro o Simpósio de Trauma de Mão. O evento contará com a presença de mais de 60 médicos especialistas em mão, vindo de todo estado, além de ortopedistas, residentes e todos profissionais envolvidos no tratamento das lesões da mão. Estão confirmadas as presenças doze médicos especialistas em cirurgia de mão de fora do Rio Grande do Sul. Além disso, contaremos com a presença do atual, do próximo e de três ex-presidentes da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão.

A equipe de cirurgia de mão do HMD atualmente conta com sete médicos, todos membros titulares da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Mão. A estrutura física e humana do HMD permite que todas as lesões de mão sejam tratadas de maneira rápida e eficaz. Há uma escala sobreaviso constante, 24 horas por dia, sete dias por semana. Nela o médico especialista em mão resolve todos os tipos de lesões, já na urgência, diminuindo o risco de sequelas e complicações.

Em 1998, o então ministro da saúde, José Serra, promulgou uma portaria que determinava a necessidade de um cirurgião de mão em todo serviço de emergência referência em acidentes e traumas. Tal portaria nunca foi cumprida. Até hoje não existe nenhum hospital público no Rio Grande do Sul que tenha serviço organizado de atendimento de urgência de trauma de mão, com médicos especialistas em plantão presencial.

Durante o Simpósio, debateremos a importância do cirurgião de mão no atendimento inicial do trauma de mão. Além disso, iremos promover e incentivar medidas e campanhas que diminuam os acidentes e lesões nas mãos, assim como as suas complicações.

Wordpress Social Share Plugin powered by Ultimatelysocial
error: Content is protected !!