Lesão de Nervo Periférico
Ao sofrer uma lesão no nervo periférico o paciente perde o comando dos músculos controlados por aquele nervo que se tornam flácidos e sem função.
O Nervo Periférico é o responsável por levar os comandos do cérebro até os músculos para que eles executem movimentos, além de trazer os estímulos de dor, sensibilidade, pressão e tato da periferia até o cérebro, para que sejam interpretados. Após um corte na mão o paciente deve procurar de imediato um hospital. Todo corte na mão tem que ser examinado de maneira urgente por um médico capacitado.
O que é um Nervo Periférico?
O nervo é uma estrutura extremamente delicada que tem o formato de um tubo e tem a função principal de carregar estímulos nervosos (correntes elétricas) desde o cérebro até a extremidade dos membros e trazê-los de volta. Eles funcionam como um cabo de luz, levando e trazendo energia e comandos, que serão interpretados pelos diferentes órgãos.
O nervo funciona como um grande cabo oco preenchido por prolongamentos de células nervosas. Os prolongamentos que levam estímulos do cérebro até a periferia são axônios e os que trazem de volta são dendritos.
Qual a Função de um Nervo Periférico?
O nervo é responsável por levar os comandos do cérebro até os músculos para que eles executem movimentos, além de trazer os estímulos de dor, sensibilidade, pressão e tato da periferia até o cérebro, para que sejam interpretados.
Os nervos também levam o comando para o correto funcionamento dos vasos sanguíneos (artérias e veias), controlando o seu calibre e fluxo de sangue, além de controlar a função e o crescimento dos pelos, pele e unhas.
Quais são os Cuidados que se Deve Ter Após um Corte?
Antes de procurar um hospital, deve-se limpar o ferimento e cobri-lo com um pano ou uma toalha limpa. Não se deve colocar garrote, cinto ou torniquete para diminuir a circulação local. Isso só aumenta a lesão nos tecidos. Quando existe um sangramento considerável, se pode fazer um curativo compressivo no ferimento. Essa pressão fará com que pare de sangrar. Também não se deve clampear com pinça algum vaso que esteja sangrando. O pinçamento tornará impossível uma reconstrução cirúrgica.
Após um corte na mão o paciente deve procurar de imediato um hospital. Todo corte na mão tem que ser examinado de maneira urgente por um médico capacitado. Um ferimento aberto, inclusive apenas na pele, tem um tempo hábil para ser fechado. Geralmente não se sutura um corte após seis horas de evolução, pois o risco de infecção aumenta.
Após um acidente, o paciente deve ficar sem comer e beber. Em caso de cirurgia de urgência, a anestesia será mais segura se o paciente estiver em jejum.
Sempre que há suspeita de que um corte provocou a ruptura de um nervo não se deve anestesiar o paciente antes de se fazer todos os testes. A infiltração de Xilocaína no ferimento fará com que o nervo perca a sua função por um período de até 10 horas, ficando impossível a definição do diagnóstico.
O que o Paciente Sente com a Lesão de um Nervo?
Inicialmente o paciente sente perda da sensibilidade da pele na região distal ao corte. Ela ficará anestesiada naquele local. Muitas vezes o paciente permanece com a sensibilidade protetora. Isto é, ele até sente que algum objeto causa um ferimento ou queimadura na pele, mas não consegue determinar com precisão o que é.
Também perderá o comando dos músculos que são controlados por aquele nervo. Os músculos se tornam flácidos e sem função, podendo ocasionar deformidades nas articulações.
Sempre que há um corte no local anatômico do trajeto de um nervo e há dormência na pele, existe uma forte suspeita de ruptura do nervo. Porém existem diferentes tipos de lesões, que podem sem parciais e totais.
Como é Feito o Diagnóstico?
O diagnóstico da lesão de nervo é clínico, feito pelo cirurgião de mão ao examinar o paciente. Para determinar a gravidade da lesão (saber se ela foi completa), existem testes específicos.
Um deles se chama discriminação de dois pontos. Com a sensibilidade normal da ponta do dedo se consegue diferenciar o toque de dois objetos pontiagudos com menos de 5 milímetros de distância. Quando há um corte e o paciente não distingue dois pontos com mais de 10 milímetros de distância entre eles, sabe-se que o nervo está rompido completamente.
Outro teste que pode ser usado, principalmente para os pacientes pediátricos ou de difícil colaboração, é colocar a extremidade numa bacia com água. A pele com a inervação normal fica enrugada quando exposta a água por um longo período. Se a inervação dessa região está lesada, a pele permanece lisa.
No local do corte, sempre que há lesão de um nervo, haverá a sensação de choque ao ser tocado, semelhante a um fio elétrico desencapado. Chamamos isso de Sinal de Tinel.
Testes utilizados para lesões crônicas e compressivas dos nervos, como Eletroneuromiografia, não têm grande utilidade nos traumas agudos. Os resultados geralmente são confusos devido a passagem de alguma descarga elétrica no local do ferimento e pela sobreposição de inervação na pele.
Toda Lesão de Nervo Periférico é Tratada com Cirurgia?
Primeiramente é importante entender a localização anatômica do nervo. Toda lesão que atinge o corpo do neurônio não tem recuperação completa. Os corpos dos neurônios estão localizados no cérebro (cabeça) ou na medula espinhal (coluna). Por isso, lesões nesse locais, na grande maioria dos casos, deixam graves sequelas, muitas vezes irreversíveis. Já as lesões que atingem os prolongamentos dos neurônios (nervos periféricos) têm capacidade de regeneração (crescimento). Mas para que essa recuperação seja efetiva e organizada é necessário que a membrana externa que recobre o nervo esteja íntegra.
Também é importante diferenciar os tipos de lesões. A lesão que é decorrente de um ferimento aberto, como corte, esmagamento ou ferimento por arma de fogo, deve ser tratada com cirurgia. Já as lesões fechadas, em que não há uma abertura na pele, geralmente não precisam de cirurgia.
Como é a Cirurgia do Nervo Periférico?
Na cirurgia conectam-se as duas extremidades do nervo, para que os prolongamentos dos neurônios possam crescer de forma organizada. Essa é uma cirurgia extremamente delicada, já que muitas vezes os nervos tem um milímetro de diâmetro ou menos.
Após um corte, o nervo funciona como um elástico, ou seja, ele vai encurtando como passar do tempo. O objetivo da cirurgia é refazer a membrana protetora do nervo e alinhar os prolongamentos dos neurônios, evitando assim que as duas partes do tubo fiquem separadas.
Devido ao pequeno calibre e à delicadeza dos nervos, para sua reconstrução utilizamos materiais e instrumentais feitos especificamente para esse tipo de cirurgia. São chamados de materiais de microcirurgia. São microscópios, lupas, pinças, tesouras e fios de sutura (esses, muitas vezes, são mais finos que fios de cabelo).
Como é a Recuperação?
Os prolongamentos dos neurônios têm a capacidade de se regenerar e crescer após uma lesão. Assim, sempre que há um corte em um nervo periférico, há uma tentativa de crescimento até o seu local original.
Uma vez lesionado o nervo periférico entrará num período de repouso por 30 dias. Nesse período ele não cresce ou regenera. Após isso, os prolongamentos dos neurônios irão crescer numa média de um milímetro por dia. Serão 3 centímetros por mês. Por isso, quanto mais longe ocorre a lesão em relação ao órgão alvo, mais demorada é a recuperação.
Pode-se acompanhar essa recuperação através do Sinal do Tinel. Progressivamente o paciente começa a sentir o choque numa posição mais longe do local da lesão.
O que é um Neuroma?
Neuroma é uma espécie de tumor que se forma na tentativa desorganizada de crescimento e regeneração do nervo. Ele ocorre quando o nervo cresce e não “encontra” o outro lado do tubo (as duas pontas do nervo estão separadas). Uma das pontas se torna volumosa e extremamente sensível pela exposição dos neurônios sem uma camada protetora.
Esse aumento de volume doloroso da ponta do nervo é chamado de neuroma.
Quais são os Fatores que influenciam no Tratamento?
Existem fatores relacionados ao paciente, à cirurgia e ao tipo de lesão.
Quanto mais jovem for o paciente, maior é a capacidade de regeneração do nervo, principalmente nas crianças. Nos adultos, se observa uma menor regeneração após os 60 anos. Um corte limpo, por faca ou guilhotina, é mais fácil de ser tratado quando comparado a lesões por esmagamento ou arrancamento. Doenças sistêmicas, como o diabetes, também agem de forma prejudicial na regeneração. Um longo período entre o corte e a cirurgia também é prejudicial. O local do corte também influencia. Cortes nos dedos têm uma recuperação mais rápida do que no cotovelo ou braço.
Alterações em outros tecidos, associadas às lesões do nervo, como fraturas, perda de pele ou lesão de tendão, também alteram a recuperação do nervo. Cada tecido tem um tratamento específico e um período de regeneração e repouso. Assim um quando ha várias lesões ao mesmo tempo, uma pode atrapalhar a cicatrização da outra.
Outro fator que temos que evitar e que age negativamente no tratamento é a infecção.
Como se trata uma Lesão crônica?
Toda lesão que não é tratada na fase inicial é mais difícil. A lesão de nervo é considerada crônica após três semanas de evolução. Nos primeiros dias após o trauma, o cirurgião consegue facilmente trazer as pontas dos cabos dos nervos até a sua posição original e conectá-los. Porém, após poucas semanas, as pontas encurtam e não se consegue mais colocá-las uma de encontro a outra.
Para esses casos utilizamos enxerto de nervo. Nervos são retirados de um outro local e funcionam como pontes que unem as duas extremidades. São uma espécie de tubo que permite o crescimento dos prolongamentos dos neurônios no seu interior.
Os nervos utilizados como enxerto são menos importantes que o lesado e a sua retirada não causará um prejuízo funcional. O mais utilizado é Nervo Sural, da porção lateral da perna. Ele é só sensitivo e é relativamente grosso e longo. É responsável pela sensibilidade de uma pequena porção lateral do pé, sendo a sua retirada bem tolerada.
Sempre que possível utilizamos como enxerto os nervos do mesmo membro da lesão. No braço utilizamos o Nervo Cutâneo Medial do Antebraço. Ele tem as características semelhantes ao Nervo Sural, sendo responsável pela sensibilidade da porção interna do antebraço.
Não existe tempo limite para a recuperação dos nervos sensitivos, mesmo após anos eles podem ser reconstruídos. Já os nervos motores (que controlam músculos) devem ser tratados em até um ano, após isso, há uma atrofia definitiva da musculatura. Para esses pacientes e também para os casos onde não há uma recuperação completa após a cirurgia, podemos fazer transferências tendinosas. Consistem em utilizar tendões e músculos funcionantes para substituir os paralisados.
Como é Depois da Cirurgia?
É importante o paciente ter consciência que a recuperação é lenta, podendo chegar a um ano. Muitas vezes, após a cirurgia, não se percebe qualquer modificação nos sintomas. A melhora só vai ser observada semanas ou meses após, com o crescimento do nervo e o retorno da sensibilidade e da função dos músculos.
Sintomas como choque no local do ferimento ou sensação de queimação na pele já podem ter melhora logo após a cirurgia.
Há Necessidade de Fisioterapia Após a Cirurgia?
A reabilitação após a cirurgia de nervos periféricos tem primeiramente o objetivo de recuperar a função dos tecidos que não foram lesados no trauma, como músculos, tendões e articulações. A imobilização dessas estruturas causa atrofia e rigidez que é de difícil recuperação.
A regeneração do nervo é bem demorada, mas existem atividades e exercícios que estimulam essa recuperação. O uso de diferentes estímulos sobre a parte anestesiada faz com que o nervo se recupere mais rápido.
Quais as Mudanças para o Futuro?
Pesquisas realizadas principalmente em animais de laboratório mostram que determinadas substâncias e células tem a capacidade de estimular o crescimento mais rápido do nervo. Entre elas se destacam os fatores de crescimento, as células tronco e plasma rico em plaquetas. Estas substâncias estão presentes no próprio paciente e são retiradas e concentradas antes de serem utilizadas.
Também se tem tentado aprimorar os enxertos de nervo. Tubos artificiais (absorvíveis ou não) e naturais (como veias e artérias) foram testados tentando evitar uma segunda incisão para a retirada do enxerto de nervo. Várias pesquisas mostraram bons resultados, mas nada foi superior ao procedimento clássico do enxerto de nervo.
Ainda tem alguma dúvida sobre Lesão do Nervo Periférico?
Pergunte para o Dr Ricardo.
Dr. Ricardo Kaempf de Oliveira
CREMERS 23655